Cresci ouvindo histórias da terra natal do meu avô e quando a conheci, me pareceu como quem descrevia um lugar inventado — cheio de neblina, pedras antigas e um mar que fala baixo. Ouvi sobre as Islas Cíes com uma ternura que só quem se despediu de casa muito cedo consegue ter. Eu, nascido em Salvador, conheci o mar de outro jeito: quente, aberto, cheio de vida. Mas alguma coisa nas histórias dele ficou guardada em mim. E quando a conheci, me senti receptivo por toda a história que estava guardada.

Essa poltrona nasce desse encontro: o quente do Atlântico de cá, com o vento gelado do Atlântico de lá. Sua estrutura ortogonal completada pelo conforto de suas almofadas é inspirada nas encostas suaves das ilhas, no modo como a areia desenha curvas que só o tempo entende. Elas abraçam como as ondas da maré subindo devagar, e se curvam como os arredondados das dunas que ligam Monteagudo e Faro.
Os Materiais lembram o toque das pedras rochosas de seus montes, e tons que oscilam entre o verde profundo da vegetação galega e os azuis translúcidos das águas frias das Cíes. É uma peça silenciosa, como o som do mar batendo nas rochas quando a praia está vazia.

A Poltrona Cíes é como quem escreve uma carta para alguém distante — um jeito de voltar para uma terra que nunca foi minha por inteiro, mas que repousa em mim do mesmo jeito que Salvador. É memória, é mar, é herança.